sexta-feira, maio 28, 2004

Esclarecimento

João, um beijo é um desencontro -
num abraço.

quinta-feira, maio 27, 2004

Melga

"Não é a cola que faz a collage."

quarta-feira, maio 26, 2004

Enredar-se

Há os nós e os laços, os sapatos e os abraços.

domingo, maio 23, 2004

Dúvida

Uma noite por dormir, são quantos dias de trabalho?

sábado, maio 22, 2004

Paralogismos

É possível dizer "silêncio" sem mentir?

Isabel Saludes

sexta-feira, maio 21, 2004

Eis-me

Eis-me
Tendo-me despido de todos os meus mantos
Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses
Para ficar sozinha ante o silêncio
Ante o silêncio e o esplendor da tua face

Mas tu és de todos os ausentes o ausente
Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me toca
O meu coração desce as escadas do tempo em que não moras
E o teu encontro
São planícies e planícies de silêncio

Escura é a noite
Escura e transparente
Mas o teu rosto está para além do tempo opaco
E eu não habito os jardins do teu silêncio
Porque tu és de todos os ausentes o ausente

Sophia

quinta-feira, maio 20, 2004

Microondas

Em Berlim 18, em Lisboa 30. Quem disse que éramos nós os dos brandos costumes?

segunda-feira, maio 17, 2004

Uberall

Ando sempre nisto, de procurar o (a)fundamento da Antropologia. Depois pergunto-me se não será a estupidez...
Ontem, no Berliner Morgenpost, respondia um escritor famoso a um jogo de palavras acerca da Alemanha: Mozart. O jornal publica porque ninguém se apercebe. Os leitores lêem e sorriem, é tudo nosso. Mas a verdade é que Mozart era austríaco e essa tendência para roubar a cultura alheia também tem nome...ou então, é pura ignorância.
Hoje, a minha professora de alemão, uma socióloga que é um verdadeiro erro de casting, jurava a pés juntos que a Idade Média termina no séc. XVIII. E que o Iluminismo é coisa do séc. XIX...disse-lhe que isso era a electricidade, um pequeno lapso. E ela que não, que não.
Há uma lobotomia generalizada a tomar posse. Eles andem aí...

E agora para uma coisa totalmente...

O bolas esteve dado como desaparecido, depois como padecendo de icterícia, esteve muito verde, sim senhor, perdeu o template, o sitemeter, os blinks, ficou isolado do mundo e, finalmente, renasssssssseu!
A Cézanne, as minhas desculpas, as maçãs são as maçãs,
Mas bolas são bolas e as de berlim são aqui.
Aos meus (3) leitores, a recomendação da Multi-ópticas, em caso de necessidade.

Sabedoria de palmo

Aos cinco anos, a autora dos desenhos que se seguem, ensinou-me que as coisas têm "um frente e um costas". Obrigada, M.

sexta-feira, maio 14, 2004


Verso


Frente


De Berlim Posted by Hello

A Piada do Dia

"Evidentemente não é possível permanecer num país onde não somos bem-vindos", declarou Bremer

Bio

Ainda quente, cheiro intenso, à velocidade do seu peso,
gravidade abaixo,
um presente de pássaro nas minhas calças lavadas.
Depois venham vender-me o orgânico.

Bom gosto

Piroso é não ter sentimentos.

terça-feira, maio 11, 2004

Espaço

A dois, a vida pode ser muito melhor.
A três, ainda melhor.
A quatro, é melhor não, que já não tenho espaço.

segunda-feira, maio 10, 2004

Antropos

Confessemos: quem de nós sabia o nome do presidente pró-russo na Tchéchénia? Talvez nos lembremos melhor dos chapéus à Mobutu. O que interessa no entanto é que todos nós lamentamos a sua morte, como lamentamos diariamente a morte de todos aqueles que nunca chegámos a conhecer e cujo nome nem sabemos pronunciar.
Restam aqueles que, cegos, puseram o coração à cintura e se fizeram explodir. Será esse o fundamento da Antropologia? Essa a diferença abissal entre a esmagadora população do mundo que quer viver e esses outros que cremaram já todos os dias que ainda não chegaram?
E chegarão?

Primavera

Chega hoje, de lusas terras
um sorriso e duas pernas

sexta-feira, maio 07, 2004

Esquecimento

Uma imagem vale mais que mil palavras, diz-se por aí. E quantas imagens vale a palavra "imagem" e quantas a palavra "palavra" e quantas palavras e imagens serão precisas para dizer uma só vez "esquecimento". A cada um a sua saudade.

Hoje

O dia pode amanhecer de um branco acinzentado letal. O vento sopra em rajadas regulares, um pulsar doentio que varre por completo a paisagem. Os pássaros silenciaram-se ou piam histrionicamente. As ruas movem-se como barcos de indigestão. O trânsito compacto não deixa passar ninguém. Calafrios. Humidade no ar. Suores arrepios respiração. No andar de cima, do lado e de baixo, mudanças de casa arrastam no soalho peças monolíticas de peso indeterminado.
E tudo isto, na minha cabeça, enquanto me retém na cama uma enxaqueca colossal, à entrada da cidade.
Voltaremos dentro de momentos.

quinta-feira, maio 06, 2004

Não te canses

No bolso em que te trago
Conheço um caminho de dedos
Quando as mãos em esconderijos
Querem citar aquelas palavras de que me não lembro
E que eram apropriadas.
Manhã dentro
A declinar a recitar a conjugar
Adjectivos nomes verbos
E nervos
De não saber das palavras os géneros
E desconhecer a vastidão dos artigos de jornais.
É perto, um coração.
Somos sempre mais velozes que as distâncias de régua e esquadro
Todo o mapa é mentira
Se amanhã aqui estiveres,
Conto mais segredos aos teus cabelos.

Para os cursados, cursistas ou cursores


Uma prima acaba o curso. Quero escrever-lhe uma coisa sobre percurso, que é uma palavra mais longa e demorada, que não consigo nunca acabar de dizer sem que me suba à mente ou me desça ao estômago a certeza absoluta de uma mentira: quando morrer, percurso. Até lá, decurso.
No curso, interessa-me mais o per. Sobretudo o dos peripatéticos.

quarta-feira, maio 05, 2004

Perder-se


Perder-se é já não saber que mão enredou a outra.

Angústia

Angústia é ter uma flor e não saber cheirá-la.

terça-feira, maio 04, 2004

Ser e já não ser - eis a questão.

Faz hoje precisamente 80 anos que se realizou o primeiro congresso feminista em Portugal. Felizmente, as que ainda são, já não são como dantes.
É que se fossem, em vez de soutiens...
...queimariam próteses de anca?

segunda-feira, maio 03, 2004

Os Homens do dia

Este e este são os homens do dia, eleitos por unanimidade por mim (nada de debate interno) - um porque compôs a música, o outro porque compôs a letra.
É o mundo novo! De Dvorjak e de Huxley, com amor, para todos os europeus, velhos e novos.

Avisada

Na semana passada, aconteceu ir jantar a um restaurante italiano muito bom, nas margens do Spree, com o tempo a permitir uma passeata nocturna e tudo. Normal, como diriam as ucranianas...não fosse este restaurante ficar situado em Kreuzberg. O nome não diz nada? Pois. Quem chega a Berlim da estranja, rapidamente se pergunta onde estão os 500 mil turcos que cá vivem - a resposta chega lesta: em Kreuzberg. E o nome, ainda para mais, recorda a famosa doença das vacas loucas, embora obrigue ao cruzamento de duas zonas da cidade: Kreuzberg e Schönefeld dão Kreuzfeld - que é como quem diz: alto lá, que isto é difícil.
Um disparate. Kreuzberg é uma das zonas mais vivas da cidade, com os tais turcos sem fim, mas também com muitas outras populações não-nativas (será politicamente correcto?). Os hispânicos estão em massa, e em geral a malta que gosta de se divertir, que não quer saber da polícia, nem do Estado, nem de coisa nenhuma que cheire a bandeira. Anarquistas, dir-se-ia, mas nada como o meu anarquista preferido , pacífico, na rectaguarda a mandar bocas. Não.
É preciso explicar uma coisa. Isto é a Alemanha. Ok. Ainda não?...Bem, o que isto quer dizer é que aqui é mesmo a doer. Nada de traseiros pró ministro, como nessas ousadas - e de duvidoso gosto - invectivas juvenis portugas. Ná. Nada disso. Aqui, bebe-se a cerveja e atira-se a garrafa bem ao centro do pára-brisas do primeiro carro que tiver o azar de passar. Portanto, passamos da civilização à barbárie em meramente 2 ou 3 estações de metro. Não houvesse metro e nada disto seria real. Vivemos paredes meias e mal sabemos do que se passa. Há um silêncio combinado acerca destes fenómenos. Os relógios mais caros do mundo vendem-se a 5 minutos do maior centro de drogados da cidade. O meu pedinte favorito fica à porta da Literaturhaus, na rua mais chique da cidade - a Fasanenstrasse. E a vida corre, como sempre.
Nesse jantar - para explicar por que é que ele cá anda - estavam nativos. Quero dizer, nativos alemães - porque também eles só vieram para Berlim nos anos 80, para participar nos campeonatos hippies e ao mesmo tempo viver em Charlottenburg, a Lapa cá da terra. E, depois, já entradotes, resolveram que Kreuzberg é que era, porque os faz sentir jovens. Ja.
O segredo que nos revelaram, a poucos dias do evento, foi que era "tradição", desde os anos 80, haver um enorme motim naquela zona, no 1º de Maio, de protesto e descontentamento face à política. Mas o motim descreve-se assim: um supermercado esventrado e roubado e depois queimado, carros carbonizados, restos de objectos cortantes (garrafas, pedras, tudo serve) por todo o lado, um consumo anormal de cerveja - uma concentração anormal de polícia.
Este ano as instituições clamam vitória: o "ritual da violência" foi contido com muito mais facilidade, os estragos foram limitados e só arderam aí uma dezena de carros, foram parar às urgências umas poucas centenas de pessoas, presas outro tanto.
Teremos todos perdido a noção de que já todos perdemos?





Dr. Jay's