segunda-feira, janeiro 31, 2005

Escorregar

É tão depressa que se escorrega
para dentro de um nome
novo e de uma nova combinação
de números
de código postal e de telefone e de contribuinte

enquanto se vai recitando
por via das dúvidas
uma raiz absoluta que não deixa ir
a lado nenhum
o coração

Que depois se escorre
e já não se escorrega
de lá para fora


A exposição polémica

Abriu, no sábado, uma nova exposição polémica em Berlim. Há uns meses atrás, foi a Colecção Flick, que dividiu o público. A questão era o passado da família Flick: o fundo que permitiu constituir a colecção vinha de um avô de Christian Flick, conhecido por ter colaborado com os nazis. Neste momento, a polémica diz respeito a um episódio do passado recente alemão: um grupo terrorista, o RAF(Rote Armee Fraktion), que espalhou a morte nos anos 70, na Alemanha.

1. A exposição
A exposição intitula-se
"Zur Vorstellung des Terrors: Die RAF-Ausstellung", ou seja "Para uma representação do Terror: a exposição da RAF". O conceito que está por detrás da iniciativa é mostrar a que formas de representação deu origem este fenómeno de terrorismo na Alemanha. O problema essencial é precisamente que algumas dessas formas de representação - e penso por exemplo em Beuys - não escondem um apoio ou uma simpatia pelo movimento da RAF. Se acrescentarmos que se soube entretanto da ligação familiar de um dos comissários a uma das terroristas, é compreensível a dimensão da polémica em torno da exposição.

2. O financiamento
Lembro-me bem que no ano passado se levantou, por esta altura, uma enorme discussão pública acerca do financiamento de uma exposição que, dizia-se, glorificava um pequeno grupo terrorista alemão dos anos 70. O conhecido e contestatário grupo da KW (KunstWerke) resolveu rejeitar o financiamento do estado e tratou do assunto por outros meios, conseguindo reunir os meios para fazer a exposição e deixar de ser refém do estado.
A discussão estava esvaziada: o malogro das intenções do ministro Schily, quando questionou que se financiasse a iniciativa, acabou por trazer a autonomia necessária à KW.


3. A representação e a independência
A independência da KW face ao Estado, no entanto, não pôs fim à polémica. Com efeito, é preciso sustentar a fragilidade da ideia, falsamente inocente, de que é possível sobrevoar o fenómeno do terror, sem opinião. As obras em exposição tratam disso mesmo! Então, como é que um comissariado pode pretender a neutralidade?
Com certeza que é pertinente e até importante discutir e trazer à luz o passado histórico de um país, nas suas dificuldades e contradições próprias. É preciso pensar sobre elas, reflectir, e não apenas lançar um anátema que, mais tarde ou mais cedo, redunda no silêncio. Fazer falar a história é fundamental para o futuro de um país pacificado consigo próprio. Mas também é fundamental, por uma exigência de verdade, que se assuma uma posição frontal, franca e aberta sobre a nossa própria posição em face dos acontecimentos.
Procurar esconder uma posição sobre o terrorismo da RAF, por detrás de uma aparente neutralidade, resulta numa explosão de evidência com que somos confrontados na própria exposição. Ou, para usar uma expressão muito portuguesa, é um "gato escondido com rabo de fora".

KW Institute for Contemporary Art
Auguststraße 69
10117 Berlin
30. Januar - 16. Mai 2005

sexta-feira, janeiro 28, 2005

Schneeschlacht


Grande luta, ontem à noite!

Quem roubou a minha neve?

Eu teria uns cinco ou seis anos, não sei precisar. Uma longa viagem de carro levou toda a família a visitar tios e primas, que viviam onde havia neve. Chegados tarde, a excitação adiada para a manhã seguinte, o reencontro com as primas, a descoberta da neve. Os casacos, uma casa a cheirar a outra família, uma cama improvisada, o sorriso de uns tios que me davam, como se fosse em segredo, colherzinhas de açúcar demolhado em café, o frio, sentir-me numa terra estranha, sacos de plástico sobre as meias, pés dentro de botas de borracha, passe-montagne, e adereços desconfortáveis. A minha mãe fazendo-me umas tranças no meu cabelo rebelde e farto, com um tempo que não era usual e uma descontracção que era terna, a recordação do primeiro trocadilho de que me lembro, a risota, as gargalhadas largas perante um
- ó tia elástica, dá cá mais uma teresa
e eu a perceber o que era um trocadilho, a rir também, como se se abrisse a porta do mundo dos crescidos e eu pudesse espreitar, num instante, enquanto a minha mãe, quase docemente, repuxava os meus cabelos num penteado novo, como aquela ocasião, também nova.
A minha tia
- olha está a nevar
e eu a ver um mistério, a vê-lo como mistério, sem perceber que a neve era o mesmo que a chuva, sem perceber nada disso, apenas reconhecendo pequenas películas brancas a dançar ali, à minha frente.
Mais tarde, em plena serra, num saco de plástico cor-de-laranja, daqueles antigos bem fortes, com a ajuda de uma prima, guardámos neve qb para brincar em casa. Acreditávamos ambas que a neve era outra coisa, uma substância única, mágica, branca, fofa, que se podia guardar para brincar mais tarde. Perante o desaparecimento da neve que jazia na banheira, uma enorme tristeza e a primeira investigação conjunta da minha história
- quem roubou a nossa neve?

quinta-feira, janeiro 27, 2005

NIE WIEDER


Hoje, apenas a brancura das lágrimas de um céu tornado mudo, as palavras "nie wieder", o horror de Auschwitz recordado.
É preciso lembrar o que as vítimas tiveram de esquecer, hoje, debaixo da brancura das lágrimas de um céu tornado mudo.
Não gosto de palavras extensas, como eternidade ou absoluto. Prefiro as palavras tensas que cumprem este lugar de equilíbrio entre o dever da memória e a necessidade de esquecer: "nie wieder".
Hoje, debaixo da brancura das lágrimas de um céu tornado mudo, as palavras "nie wieder", o horror de Auschwitz recordado, precisamente no dia em que deixou de existir na vida das vítimas e em que passou a viver na memória de todos.
Depois de Auschwitz é possível a poesia.
Só hoje não. Hoje, apenas a brancura das lágrimas de um céu tornado mudo.
"Nie wieder". Nunca mais.
As palavras tensas da esperança.

terça-feira, janeiro 25, 2005


Aqui estavam eles...

segunda-feira, janeiro 24, 2005

Isto é um desabafo e um pedido

Soube ontem, que nos roubaram os cães, em S. Pedro de Sintra. Um misterioso buraco na rede para o lado de um vizinho que se queixou que eles faziam muito barulho e que, veladamente, ameaçou tratar do assunto pelas suas mãos - são os únicos indícios.
São dois Serra da Estrela, puros, com 1 ano. São irmãos: um chama-se Black e o outro Decker. O primeiro é preto e o outro castanho. Têm um chip que os identifica. São os melhores amigos da minha sobrinha Mariana, que tem 6 anos. E que vai ficar destroçada quando souber.
Quando tiver uma fotografia, vou pô-la aqui. Não sei mais o que fazer, à distância. Se alguém tiver sugestões...

sábado, janeiro 22, 2005

Cu-cu


18. Januar 2005.
Kuckuck - ein lichter Moment in einem Flüchtlingslager südlich von Galle/Sri Lanka (Cu-cu - um momento mais leve num campo de refugiados de Galle)

FAZ


Sinistralidade

Vê-se bem que Portugal é um país de sinistralidade elevada:
não há político que não anuncie choque.

sexta-feira, janeiro 21, 2005

Ângulo-sucção

Sobre os portugueses a verter para o inglês, ensinou-me uma tia minha já muito velhinha, os seguintes triques:
1) Sugar, please = Enxuga-me o polícia
2) comfortable = campo de futebol

O charme discreto da burguesia

Conversa com um novo vizinho
- desculpe, é francesa?

- eu não, mas o meu charme é.

Repeat after me

Não perguntarei pela tese.
Não perguntarei pela tese.
Não perguntarei pela tese.

Conselho de amiga

Não basta ter ideias. É preciso ter ideais.

Depois da tempestade, a liberdade

No primeiro mandato, faz-se uma tempestade no deserto com material bélico.
No segundo, impõe-se a liberdade com material diplomático.
É a ordem bushiana das coisas.

quinta-feira, janeiro 20, 2005

Se a minha tese tivesse banda sonora

Esta podia bem ser a faixa principal :


Brahms
Sonatas para Violino e Piano
(Zukerman e Barenboim)

Mais uma adenda (ou álbum de família)

É verdade! Já que estamos nisto, e com a ajuda do Arquitecto maravilha para avivar a memória: Sir Simon Rattle fez ontem 50 anos!

Adenda (para os distraídos...)

É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
Eugénio de Andrade
(que fez ontem 82 anos)

quarta-feira, janeiro 19, 2005

É urgente

Ali para os lados da Carlos Mardel

Às 9 da madrugada
- imagine-se minha gente!-
que à minha porta bate
(ainda que delicadamente)
um agente dos correios
carregado, carregado.
De caixote ao peito
(que um cheiro suspeito exalava)
pediu-me que assinasse os portes
e antes que o sigurasse direito
já o homem estava na escada!
De remetente desconhecido,
o pestilento caixote suspeito,
desviando o meu bocejo,
revelou-se em bastante queijo
café chá e marmelada!
Benfazejo seja
quem assim me presenteia
mesmo cedo e malcheiroso
com farnel tão delicioso!

Zeng Mi

Ich bin ein Wanderer


Caspar David Friedrich
Der Wanderer über dem Nebelmeer
Hamburger Kunsthalle

Ich, Lovis Corinth


Hamburger Kunsthalle
19.11.2004 - 6.02.2005

Keeping posted #6

Esteve a nevar. Mas a minha orquídea insiste em florir.
Como dizia um velho professor,
já alguma vez se viu um grão de trigo a desistir de crescer?

Ah, quando ela chegar!


Espero ansiosamente pela Primavera, se ela prometer o mesmo tom que esta.

terça-feira, janeiro 18, 2005

Paradoxos #12

Que a petulância não tenha nada a ver com a relutância.

Culinária

- E o seu post - é bem passado, ou mal passado?
- É médio.

segunda-feira, janeiro 17, 2005

Catalogação Aristotélica

Se se usasse um critério aristotélico para catalogar os blogs, diríamos que há aqueles que têm o seu fim em si mesmos e há os outros, que só vêem cumprido o seu fim fora da actividade bloguística.
Os primeiros não precisam de leitores, são auto-suficientes, narcísicos e umbiguistas. Os segundos só existem na medida em que tenham quem os leia, os discuta, os provoque, lhes responda.
Os primeiros têm comentários disponíveis quando lhes apetece, instalam sitemeters só para ver se a internet está a funcionar e citam outros bloggers sem querer saber de repercussões, sem imperativos de rigor absoluto. Os segundos zelam pela qualidade e elevação do debate que decorre nas suas caixas de comentários, acabam referidos nos jornais e na televisão, observam cuidadosamente os resultados dos seus sitemeters e extrapolam conclusões sociológicas, apostam numa imagem diferente, particular e única, citam cuidadosamente todos os outros bloggers e prolongam as suas discussões até à náusea.
Os primeiros existem porque precisam de ser escritos. Os segundos aparecem porque precisam de ser lidos.
Em comum, a crença que têm qualquer coisa para dizer.

P.S.: Este blog é platónico.

Se do mundo eu só conhecesse uma cidade

E essa cidade fosse Hamburgo, eu diria estar ao pé do mar, quando o mar ainda fica longe, eu diria estar muito a norte, quando para norte ainda há muitas outras cidades, eu diria estar numa cidade industrial, quando na verdade Hamburgo é uma cidade mais comercial do que industrial.
Di-lo-ia porque os rios que em Hamburgo se cruzam e que aí desenham um enorme porto têm a dimensão do mar. Na verdade, até se chegar ao mar do norte ainda há caminho pela frente, mesmo que já cheire a maresia, que o peixe seja abundante e que as gaivotas se façam ouvir por toda a parte. Di-lo-ia porque a arquitectura oscila entre arrojados efidícios, onde abunda o vidro e o aço, sempre com formas alusivas ao mar, e uma arquitectura de séc. XIX, que ora constrói núcleos de habitação burgueses, ora desenha bairros operários. Di-lo-ia ainda porque a cidade, extremamente cara, tem uma densidade comercial impressionante, as lojas sucedem-se ao ritmo vertiginoso de um passo, reflectem-se com um canal de permeio, exibindo luxos e descontos com a naturalidade de uma carteira Luis Vuitton a viajar de bicicleta.
Mas do mundo conheço mais cidades. E no meio delas, Hamburgo é como uma Amsterdão que tivesse feito um compromisso com Roterdão e com Londres. Estranho? Dotada de uma "red light district", de nome Reeperbahn, das novas construções no porto, bem como de idílicos canais, Hamburgo estende-se ao longo do Elba, com os seus "Altonaer Terrassen", o jardim Heine e as casas de tipo inglês, que me transportaram para Londres por breves instantes.
Desconcertante é a vista. Numa cidade que ao contrário de Berlim não é plana, a imensidão do porto descerra uma paisagem inesperada: ilhas e ilhas de contentores, gruas e navios.
Se do mundo eu só conhecesse uma cidade e ela fosse Hamburgo eu nunca saberia o que é o mar.



Para quando?

No Público de hoje, este artigo é revelador. Versando sobre o futuro energético de Portugal, vem mostrar como uma política ambiental que estava a ter resultados é abalada pela trafulhice legislativa deste governo que continua a ir ao fundo. Mais: para quem quiser ler, o artigo torna bem claro que o desinvestimento português nas energias alternativas só pode ter como motivo a pressão dos lobbies do petróleo.
Quando cheguei a Berlim, fiquei espantada porque na minha rua os parquímetros funcionam a energia solar. Não só na minha rua, mas em todas! E como se sabe, Berlim não é conhecida pelos seus abundantes dias de sol...
No fundo, daqui a vinte anos vamos dizer que não estávamos preparados. Nisso, só acredita quem quiser. Como sempre, aliás.

sexta-feira, janeiro 14, 2005

Keeping posted #5

Guess who came back to see us...
Winter.

O polvo

Como se não soubessemos, um estudo da IGF confirma:
Estado trabalha muito mais para si próprio do que para os cidadãos e empresas

Correcção

Um país com o mar no peito gera trovadores e navegadores.
Um país com o mar na cabeça gera mercadores e armadores.

quinta-feira, janeiro 13, 2005

Uma questão de Geografia [a caminho de Hamburgo]

Um país como o nosso, de peito voltado para o mar, resultou numa nação de navegadores e de trovadores.
Um país como este, com o mar a norte, na direcção do cérebro, resultou numa nação de mercadores, empreendedores e armadores.

quarta-feira, janeiro 12, 2005

Pergunta-parabéns-você-acaba-de-meter-a-pata-na-poça

Afinal, a tua tese é sobre o quê?

Zoologias 2

A dona Órora:
espécie autóctone, aparência discreta e modesta, saia travada, blusa florida, sapato prático, utente dos transportes públicos (à excepção do metro, porque tem medo de uma "catástorfe"), passe social, cartão do idoso. Quarta classe feita no tempo em que se ensinava a escrever e a contar como devia ser, com a menina dos olhos ali à vista de todos, mas derivado a ter que trabalhar para ajudar os pais, fez-se costureira aos 10 anos. Tinha um irmão que como era esperto foi para padre, para poder estudar. A mãe tinha uma vaca. O pai, uma pouca de terra, mas trabalhava numa fábrica como fundidor.
Gosta de ler a Maria, a TV Sete Dias e a Caras. O seu programa favorito foi a Quinta das Celebridades. Aflige-se muito com as "catástorfes" que vê no telejornal da TVI. Acha que a Manuela Moura Guedes é uma senhora muito fina e esperta. Também gosta de ver o Herman. Gostava muito do Carlos Cruz, mas acha que ele é culpado. Não acredita que se faça justiça, porque ele é um homem rico e compra bons advogados.
Nunca foi ao estrangeiro. A coisa mais bonita que viu foi o Algarve. Vai à terra de tempos a tempos, onde tem uma "casita" que lhe ficou dos pais. Faz renda a tempo inteiro, para vender às vizinhas. Quando não, dedica-se aos arranjos de costura.
A sua profissão é funcionária pública. Derivado a ter uma madrinha em Lisboa, foi para a cidade aos 12 anos, servir numa casa de uma família rica, que lhe arranjou depois, com boa vontade, um lugar de contínua numa Faculdade de Letras. Casou com um moço que era lá da terra, o Joaquim, que era metalúrgico.
Fizeram-na, a alturas tantas, responsável por um centro onde se guardavam documentos, parece que coisas muito importantes da História. Para ela, era só papel e pó. Mas havia para lá aquelas porcarias da revolução pelo meio, e ela desejou muito reformar-se, porque os bons tempos foram os de antigamente. Até se pôs doente.
Sofre dos nervos e da vista. O marido tem problemas da próstata, mas graças a Deus, nada de "malífico". Quem lhe vale é a filha, a Bela, que é muito esperta e trabalha nas Finanças. A Bela vai-lhe buscar as receitas para os medicamentos ao centro de saúde. O médico de família não presta para nada, porque não a manda fazer exames, mas enfim, sempre é barato.
A grande alegria da vida é olhar para as duas netas, a Soraya e a Andreia, que são muito bonitas, muito espertas e gostam muito dos artistas da televisão. Já não gostam de ir à terra com ela, mas o Joaquim, de tempos a tempos, lá lhe faz o gosto. Metem-se no carro à quinta-feira depois do almoço e depois vêm para baixo à terça. É quando as saudades das netas começam a dar-lhe cabo dos nervos.

segunda-feira, janeiro 10, 2005

Zoologias

O gestor Excell:
espécie autóctone, aparência distinta, gravata de seda italiana, ao volante de um bom carro, bronzeado ligeiro (excepto na Páscoa, quando aparece bronzeado da neve, e no Natal, quando aparece moreno das férias no hemisfério sul).
Fluente em Excell e em inglês. Teve problemas com o português no secundário, que foram ultrapassados assim que deixou o ensino português, que considera péssimo. Faz cálculos como ninguém, mas não interpreta, porque é objectivo. É grande leitor de: Finantial Times, Economist, Time. Compra às vezes o DN para ler o que escrevem os seus amigos. Tem um MBA feito nos EUA, suportado pelo pai, a quem traz charutos, cada vez que vai a Cuba. Adorou a Católica, onde fez imensos amigos, com quem sai à noite regularmente.
Acha que todos os vinhos franceses são bons. Acha que só ele conhece os bons vinhos portugueses. Acha que, em geral, os produtos portugueses são maus. Não suporta a conversa dos "têxteis". É adepto ferrenho da liberalização total do comércio. Não adora a Europa, mas sempre gosta de dar um saltinho a Paris de vez em quando.
Nunca andou de metro. Não faz ideia do que custa um bilhete. Pelo contrário, sabe exactamente quanto custa cada trabalhador da empresa que gere. Tem uma vaga ideia de quanto vale. Considera o mercado uma coisa "perigosa". Tem-se na conta de domador de feras. Acha que só ele consegue salvar o país.
Acha os sindicatos uma coisa obsoleta, ninhos de homens de meia branca e bigode, que nunca foram ao estrangeiro. Imagina que são amigos da sua sopeira. Não tem empregada doméstica. Tem sopeira. A Luzia, que é caseira da quinta dos pais. Acha que a Luzia é "amorosa". Desconhece que a Luzia tem diabetes e está quase cega.
Para ele, qualquer homem com mais de 50 anos, à excepção do pai, está arrumado, já não sabe nada. A experiência só vale até aos 40. A mãe é uma querida. Quer encontrar uma namorada como a mãe. Não dá gorgetas porque não quer alimentar ilegais. Acha que os emigrantes são uma praga. Não faz ideia de que há a "linha de Sintra".
Acha o chá da Versailles a coisa mais chique que já viu em Lisboa. Tirando isso, só o condomínio fechado onde vive. Nada imenso, adora. Quando tem que viajar para o Norte, sente imensas saudades do sol. Não se imagina a viver sem sol.
O escritório é o melhor lugar do mundo, a seguir à Kapital, às quintas à noite. E o Excell é o melhor programa que já foi inventado. Está a pensar escrever um livro sobre si próprio, mas acha que ainda é cedo. Quer ser político um dia mais tarde, porque acha apaixonante a ideia de gerir um país inteiro. Se não fosse gestor, queria ser rei.

sexta-feira, janeiro 07, 2005

ECG

Querido João:

A aritmética de uma batida cardíaca
Por detrás das grades da matemática
Diz menos sobre a aflição da arritmia
Do que a simples gramática.

Não tenho nada contra o ar puro, mas...

...a menos de um mês do fim da tese, o importante é produzir, nem que seja dióxido de carbono.

As Quatro Estações


Cy Twombly, As Quatro Estações

quinta-feira, janeiro 06, 2005

A descoberta do fim

Em Berlim, na Gemäldegalerie, foi encontrado aquele que é provavelmente o último retrato de Mozart, da autoria de Johann Georg Edlinger (1741-1819). O quadro deve ter sido pintado em 1790 ou 91, no ano da morte de Mozart.

Paradoxos #11

Acordar do avesso é ter vontade de dormir.

História da Filosofia

E então, com profunda penetração intelectual, engravidou o mundo de conceitos.

quarta-feira, janeiro 05, 2005

A grande lição

Indecente é a ignorância

Paradoxos #10

Há as menções honrosas e as missões horrorosas

terça-feira, janeiro 04, 2005

Rabo de Boi

O aeroporto de Banda Aceh esteve fechado depois do acidente com um Boieng 737, que não causou vítimas. Neste momento a situação já foi normalizada e os voos retomados, mas a ajuda humanitária para a Indonésia que chega via este local atrasou-se.[...]O avião, proveniente de Jacarta com géneros alimentícios e outro tipo de ajuda, derrapou na pista no momento da aterragem devido ao choque com um boi que se encontrava neste local.

Incultos

O Público de hoje, indignado, anuncia: "Professora de Filosofia na Vice-presidência do Instituto do Consumidor". Para o Público, um licenciado em Filosofia é mais ou menos como um bruxo, um vidente, ou um cartomante. Aliás, basta ir a uma qualquer livraria da cidade de Lisboa para descobrir que a(s) prateleira(s) dedicada(s) à Filosofia está/ão normalmente muito próxima(s) do Esoterismo, do Misticismo e da Religião. O que era preciso começar a explicar às pessoas, é que um licenciado em Filosofia é um profissional qualificado para múltiplas funções. Podia até dar-se o exemplo da Presidente da Hewlett-Packard, que é uma senhora licenciada em Filosofia. Mas isso era só se o Público não fosse mais um meio de comunicação histérico, que todos os dias vê ovnis a pousar no Tejo...

Prognósticos [faites vos jeux!]

Em Fevereiro, o governo em gestão acaba a digestão com uma enorme congestão.

segunda-feira, janeiro 03, 2005

Ilusões

O que parece o fim do mundo é só o princípio do ano

Keeping posted #4

Há 3 dias que não pára de chover. O vento sopra, forte, ameaçador, em rodopio.
O ano começou, pois, com tudo pelo ar. Passaremos os próximos meses a tentar pousar.


Dr. Jay's