Haverá uma cura?
O escritor Rui Nunes, numa entrevista ao Expresso, em 2001, dizia: "A narrativa é artificial, a fragmentação é que é a realidade. Nós não vivemos nenhuma história, vivemos bocados e perdemo-nos entre uns e outros. É talvez por isso que se escrevem histórias: para dar unidade àquilo que a não tem, para integrar o que surge desintegrado, para dar sentido ao que na verdade não tem sentido nenhum..."
Penso em Joyce, no Ulysses. Penso num dia. Será verdade um dia? Quanto tempo tem uma história? Haverá uma história?
As maiores ficções que li foram autobiografias. Todos nós nos inventamos. Somos, aliás, a nossa maior ficção. Construimo-nos de bocados esparsos, de fissuras do tempo, de impossibilidades de memória, de vivências por meio de fotografias, nós de cabelos, cheiros, rostos. Quantas vezes seria possível contar a minha história!...
Penso de novo em Joyce. Um diário está mais à medida das nossas possibilidades. Joyce foi Joyce, goste-se ou não, reconheça-se-lhe ao menos o génio. Nós estamos à medida do diário. Temos um blog. Um dia, um post, ou dois, ou mais. Tudo junto, bocados entre os quais nos perdemos.
Será o blog uma cura para este mal pós-moderno?
Rui Nunes torcer-se-ia e, na sua habitual demolidora palavra, dir-me-ia - "ó Inês, não há cura!"
1 Comments:
Caramba! Tb já há escutas na tua mesa de jantar? Este Rui tem amigos na PJ de Berlim!! Tu cuida-te! DR
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