quinta-feira, agosto 12, 2004

Pausa inter-semestral

I.
Foi tempo disso. De comer bolas de berlim. De me deitar numa toalha listrada como um tigre. A toalha, não eu. De ouvir o incessante quebrar das ondas. Do sol sobre a minha pele. Do mar frio nas minhas costas. Da areia secreta por entre os dedos dos pés. Do guarda-sol ao meu ombro. Do creme no meu saco gigante de transportar tudo. De um livro cheio de areia dentro da lombada. De pôr um bikini colorido e ser igual a toda a gente. De andar pela vila com sapatos impróprios.
II.
E também de ver a serra encobrir-se. De escuro e medo à noite. De nuvens. O céu abrir-se e ser fresco. De ladrar de cães em plena madrugada. De uivar de cães ao som da sirene dos bombeiros. De ler o jornal como se fosse do estrangeiro. O jornal, não eu. De pedir bicas. De fazer trocadilhos com facilidade e gosto. De comer travesseiros e barquinhos de ovos. De ver uma mulher corajosa a gritar directamente para a gula, acerca de umas bolas de berlim. Ou de línguas da sogra. Em plena areia.
III.
É tempo disto. De abastecer o frigorífico. Onde jazem restos mortais irreconhecíveis de coisas que não me lembro de ter comprado. De abrir as janelas durante a noite para arrefecer a casa. De aprender a suportar temperaturas de 39 ou 40 graus. Que batem nos vidros. Que passam as cortinas. Que invadem a casa. Que sufocaram as plantas. Que não trazem mar. Que não são de praia. Que não têm humidade. Que oscilam entre o chão e o capacete de nuvens. Que não circulam. Que não mexem.
IV.
E também de me habituar ao café com k. Que não é bem café. De sorrir sem perceber nada. De sorrir porque ninguém percebe nada. De tentar articular todas as sílabas. De aprender a saborear palavras desconhecidas. De vir para dentro. De fechar as janelas. De matar mosquitos. De afagar cabelos. De afugentar medos. De voltar sempre para trás. De repetir remember? De cozinhar. De berlinar.
V.
E o tempo chega em que se espera que trate disto. De escrever uma tese. De não destruir uma relação. De me integrar num país. De domar uma língua. De emagrecer e fazer ginástica. De sorrir muito. De escrever muito. De escrever bem. De esquecer tudo. De me organizar. De me desorganizar. De ver. De sobreviver. De escrever uma tese. De escrever uma tese.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Vá, vá! Andamento! Ficam as fotografias para a posteridade! DR

2:55 da tarde  

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