Compreender isto
Começámos por enterrar os mortos, dizem alguns antropólogos. Fizemos-lhes moradas. Escondemo-los longe do nosso olhar. Pusemo-nos a salvo da contaminação.
Nalguns casos, engolimo-los. Incorporámo-los, para que continuassem a existir. Devolvemo-los à natureza, em cinzas, ou em flores. Pusemos-lhes uma data. Uma data final. Assinalámos o dia. E pensámos que com isso resolvíamos todo o problema da finitude...
Temos duas mãos. E duas mãos chegam. Temos duas pernas, e elas chegam. Dois olhos e um monte de tralhas ópticas que nos chegam para ver o que não vemos. Temos um corpo que se move, mais uma parafernália de máquinas de voo ao nosso alcance. Temos uma mente que pensa, mais toda a traquitana da cultura.
Mas o desejo quer tudo. E o mundo.
Um morto é mais perigoso que um vivo. Porque no-lo recorda.
Haverá tempo que chegue para compreender isto?
1 Comments:
quando se ganha o apego à cidade (como eu tenho e julgo que tu também) lá vem o nó enrolar a garganta, não é?
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