segunda-feira, setembro 06, 2004

Coffee and Cigarettes

Coffee and Cigarettes
Filme de Jim Jarmusch
(EUA, 2003)

Jim Jarmusch é um realizador americano que faz "filmes de culto", de acordo com o flyer, seja lá o que isso for. Mas também é cameraman quando lhe apetece e faz video-clips nos intervalos, para não se aborrecer. Tem no CV filmes desde 1980 e este é o mais recente.
"Coffee and Cigarettes" é um filme em 11 episódios, estruturados em redor de uma mesa onde se bebe café e se fumam cigarros. Montes de café e montes de cigarros. Onde se fala das propriedades da cafeína, ou do tabaco. Ou de coisa nenhuma. O filme é protagonizado por actores e músicos bem conhecidos, que interpretam personagens mais ou menos próximas de si próprios, mas que trazem para o filme os seus nomes verdadeiros. O filme é a preto e branco e tem uma banda sonora que vai dos Funkadelic até Mahler, passando por Iggy Pop ou Tom Waits (dois dos actores, aliás).
Aleatório, podia bem ser a palavra para descrever este filme. Mas tão aleatório, de facto, como uma conversa de café. Que vai desde ser sobre nada até ser tanta coisa que é pouco. A arbitrariedade dos encontros da vida, está sempre marcada pela existência de padrões de xadrez nas mesas, ou nas chávenas, ou no chão dos cafés. Mas está lá sempre.
Alea jacta est, diz Jarmusch. Pronto, digo eu, que não posso dizer muito sobre isto, a não ser o que vi...


Strange to Meet You
Roberto Benigni e Steven Wright falam das virtudes da cafeína antes de adormecer, para se poder sonhar a alta velocidade. E como Roberto tem tempo e Steven não tem vontade, o primeiro oferece-se para ir ao dentista pelo segundo.
Twins
Cinqué Lee, Joie Lee e Steve Buscemi envolvem-se numa discussão para saber qual dos dois gémeos é o gémeo mau. Steve defende que quando há gémeos, um é necessariamente mau. E dá como exemplo a sua teoria sobre o caso de Elvis Presley, cujo irmão gémeo veio a substituir sem que ninguém se tivesse apercebido, e que foi afinal quem o conduziu ao seu fim.
Somewhere in California
Tom (Waits) encontra-se com Iggy(Pop). Como deixaram de fumar, as suas vidas passaram a ter "focus". E como deixaram de fumar, podem fumar quando lhes apetecer. Tom é arrogante e Iggy submisso. Mas não há música de Tom na jukebox, comentário que este toma como uma afronta. "Estás a dizer que o Taco Bell seria mais o teu estilo?", pergunta, provocatório.
Those things'll Kill Ya
Joe Rigano, ao melhor estilo máfia, não aceita que Vinny (Vella) continue a fumar. E que almoce café e cigarros. Vinny esconde o cigarro quando o seu filho mudo chega, para pedir 4 dólares. Regressa com um pacote de especialidades japonesas que Joe abomina. Segundo Vinny, falta-lhe qualquer coisa para apreciar as coisas finas da vida.
Renée
Renée (French) está sentada sozinha a beber um café e a ler um artigo numa revista. O empregado (E. J. Rodriguez) procura desesperadamente oferecer-lhe mais café. Irritantemente. Ela recusa sem perder a paciência e sem perder pitada do seu artigo sobre armas e motas.
No Problem
Isaach (de Bankolé) está muito contente por rever o seu amigo Alex (Descas). Mas este acha que o seu amigo tem um problema, que ele diz não ter. E como não tivessem mais que conversar, Alex decide ir-se embora até que a Isaach apeteça "falar disso", desse problema que não existe.
Cousins
Cate (Blanchet) encontra-se no átrio de um hotel chiquíssimo com a sua prima Shelly (interpretada pela própria Cate Blanchet). Cate é uma actriz de sucesso, perfeita, linda, rica. Shelly é o paradigma da americana que se ficou pelos anos 80, com cabelos à Joplin e botas à cowboy. O encontro é confrangedor para ambas, sobretudo no momento em que Cate oferece a Shelly um saco cheio de produtos de beleza que esta descobre terem sido ofertas.
Jack shows Meg his Tesla Coil
Jack (White) construiu uma máquina de acordo com o modelo de Nikola Tesla. Meg (White) descobre-lhe o problema, quando a máquina deixa de funcionar. Entretanto, ambos se deixam embalar pela definição que Tesla terá dado do mundo: "um condutor de ressonância acústica".
Cousins?
Alfred (Molina) convida Steve (Coogan) para tomar um chá, em LA. Isto para lhe revelar que são primos! Mas Steve não está nada para aí virado, arranja mil desculpas para não dar o número de casa, até que Alfred recebe um telefonema que o faz mudar de ideias...mas aí, já é tarde. É o esplendor britânico a afundar-se qual titanic.
Delirium
GZA e RZA encontram-se para tomar chá de ervas. RZA é especialista em medicina alternativa e acha que a cafeína e a nicotina conduzem ao delírio. O empregado, Bill Murray, aproxima-se. Pergunta-lhes se querem mais café. Fuma um cigarro com eles. Bebe café directamente da cafeteira. Disserta sobre o delírio. E segue o conselho de gargarejar com detergente para o forno, contra aquela tosse de fumador.
Champagne
Taylor (Mead) explica a Bill (Rice) que se sente como naquele Lied de Mahler que diz que alguém se sente como se tivesse abandonado o mundo. Ouve-se o Lied . Evoca-se a teoria de Nikola Tesla, de que o mundo é como um condutor de ressonância acústica. E, finalmente, bebe-se o quase insuportável café como se fosse champagne, para brindar à "joie de vivre".




No fim disto tudo, o New York Times diz que o filme tem o sabor de um velho LP.


Dr. Jay's