A história de A. e de K.
Tenho uma colega no curso de alemão que é polaca. Só uma, para meu grande espanto. Há muitos polacos em Berlim, o país natal não fica longe e as diferenças são incomensuráveis. Apesar da adesão da Polónia à UE, só está prevista a legalização e autorização de permanência a polacos daqui a 7 anos. Assim, a maioria deles faz trabalho ilegal ou, como esta minha colega, chamemos-lhe A., vive da segurança social.
A. tem 30 anos e um filho de 3. Foi casada com um alemão. Teve o filho na Alemanha. O filho é alemão. Ela era fotógrafa. Mas trabalhava em "logística", como ela própria me explica, no seu nervosismo e atabalhoamento normal. Há uma disseminação da "logística" no leste europeu que não compreendo. Nem sequer chego a perceber do que se trata. Ela fala-me numa coisa que soa a gestão de recursos. Será?
A. está desempregada. Embora nunca tenha trabalhado na Alemanha, nem, consequentemente, tenha feito descontos para a Segurança Social, A. recebe mensalmente subsídio de desemprego. Além disso, como está sozinha com um menor a seu cargo, recebe uma ajuda também mensal para pagar a renda. Em termos práticos, ela não paga renda. Como qualquer mãe neste país, ela recebe ainda um subsídio mensal, como um abono de família: o primeiro filho "vale" algumas centenas de euros por mês. E como tem uma situação económica de absoluta dependência e alguma fragilidade, não paga a creche do filho.
Além destes apoios directos, A. recebe também uma ajuda estatal no que diz respeito à saúde. Na prática, A. não paga consultas, nem tratamentos, apenas os medicamentos que compra na farmácia. A. tem passado os dias no dentista. Depois foi o problema da sinusite. Agora, parece que se está a tratar da asma.
O filho de A., chamemos-lhe K., está na creche durante todo o dia. As educadoras pensam que ele sofre com a separação dos pais. K. ainda não fala muito. Balbucia algumas palavras em alemão e compreende perfeitamente o que a mãe lhe diz em polaco. As educadoras consideram-no hiper-activo e agressivo. K. tem 3 anos e meio e parece-me completamente normal. Mas mesmo assim, as educadoras encaminham a mãe para uma psicóloga que fará o apoio semanal de K. a expensas do Estado. A. está muito contente. A psicóloga é óptima e a criança fica lá cerca de meia hora em que ela pode descansar. Sem custos.
A. está naturalmente inscrita num centro de emprego. Caso contrário, não poderia receber o subsídio. Mas A. está inscrita como fotógrafa. As probabilidades de vir a encontrar trabalho são mínimas. Ela sabe-o, mas isso não a preocupa. Antes pelo contrário...é que quando A. começar a trabalhar, receberá um salário, com certeza, mas perderá todos os subsídios de que neste momento goza. Terá de fazer descontos para a Segurança Social e pagar um "seguro de desemprego". E não terá direito à quantia que lhe é dada para pagar a renda. Nem poderá continuar a levar o seu filho à creche gratuitamente. O que, muito provavelmente, a atirará para a miséria.
A. sabe: trabalho significa o fim do Estado social. Trabalho significa miséria. Por isso, A. continua a passar os dias em aulas de alemão, ou noutra coisa qualquer, à espera que ninguém a chame do centro de emprego.
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