quinta-feira, setembro 09, 2004

Quando é preciso lembrar o que não se pode esquecer

Numa altura em que a Alemanha se agita profundamente, com a recrudescência de fenómenos políticos preocupantes, nomeadamente os resultados eleitorais de partidos de extrema direita, penso na razão pela qual aquele quadro de Dali que aqui coloquei, "A Persistência da Memória", tantas vezes regressa ao meu pensamento.
Adivinham-se ainda dias mais difíceis, com a estreia de um filme sobre os últimos dias de Hitler, baseado no diário da sua secretária, que já suscita inúmeras críticas e posições radicais.
Discute-se ainda o impacto da abertura ao público de uma exposição de arte contemporânea, porque o coleccionador é descendente de uma família que terá colaborado com os nazis e beneficiado do trabalho de judeus que estavam em campos de concentração.
E ao mesmo tempo, este fim-de-semana marca uma etapa decisiva no memorial do Holocausto, que está a ser construído em Berlim, entre a Brandenburger Tor e a Potsdamer Platz, e que é da autoria de Peter Eisenman. As pedras estão já colocadas e revestidas de uma substância que as protegerá dos grafittis. O projecto entra na sua fase final.
Encontro nesse "campo de estrelas" uma semelhança notável com o jardim do exílio, que Daniel Libeskind projectou para o Jüdisches Museum.


Descubro como a reinvenção do espaço se tornou para mim a citação de um passado que não vivi, que portanto não recordo, mas que acontece ali mesmo.
Para as gerações futuras, que não seja preciso lembrar-lhes o que não se pode esquecer.


Dr. Jay's