De como o Intelectual é cartesiano, ou de como o cartesiano é um corpo impróprio
João, depois de uma reflexão sobre a tua resposta, já sem aroma martiniano e inspirado pelo Guincho, tendo a concordar contigo, se concordares comigo...
"A experiência do corpo próprio [...] revela-nos um modo de existência ambíguo. Se procurar pensá-lo como em feixe de processos na terceira pessoa - «visão», «motricidade», «sexualidade» - apercebo-me de que estas «funções» não podem estar ligadas entre si e ao mundo exterior por relações de causalidade, elas são total e confusamente retomadas e estão implicadas num drama único. O corpo não é, por isso, um objecto. Pela mesma razão, a consciência que eu tenho dele não é um pensamento, quer dizer que eu não posso decompô-lo e recompô-lo para ter dele uma ideia clara. A sua unidade está sempre implícita e é confusa. Ele é sempre outra coisa do que é, sempre sexualidade ao mesmo tempo que liberdade, enraizado na natureza no momento mesmo em que se transforma pela cultura, nunca fechado sobre si próprio e nunca ultrapassado. Quer se trate do corpo de outrem, ou do meu próprio corpo, não tenho outro meio de conhecer o corpo humano senão vivendo-o, quer dizer chamar a mim o drama que o atravessa e confundir-me com ele. Eu sou portanto o meu corpo [...]. Assim, a experiência do corpo próprio opõe-se ao movimento reflexivo que destaca o objecto do sujeito e o sujeito do objecto, e que não nos dá senão o pensamento do corpo ou o corpo em ideia e não a experiência do corpo ou o corpo na realidade."
MERLEAU-PONTY, Phénoménologie de la Perception, p. 231
2 Comments:
vou para o campo!
mais logo segue resposta com o aroma do musgo no presépio.
pensando bem...
essa do "conhecer o próprio corpo" é uma coisa de five against one...
hummmm
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