terça-feira, agosto 17, 2004

Adenda indispensável ao post anterior [ou antes que me comecem a chamar xenófoba]

Ontem foi dia de manifestações na Alemanha, em especial nas zonas do antigo Leste. Tem sido prática das últimas semanas. E é uma evocação um pouco sinistra dos tempos da DDR, do comunismo e da miséria, com as manif's de segunda-feira.
O objecto das manifestações foi um pacote de medidas baptizadas de Hartz IV, que consistem numa redução dos benefícios sociais, em geral, e muito particularmente, na limitação temporal do direito ao subsídio de desemprego.
É aqui que entra a história (verídica) que acabei de relatar. Na Alemanha, o Estado social tem uma amplitude que não se imagina. Mas os efeitos perversos do mesmo geram assimetrias e desequilíbrios que dificilmente a sociedade alemã saberá "digerir".

Por um lado....
Por um lado, há os alemães que trabalham e que fazem descontos brutais para a Segurança Social, nomeadamente para um Fundo de Pensões, para um "seguro de desemprego" e para um seguro de saúde. Na minha experiência isso significa cerca de 1 000 euros num salário de 2 800. Falta ainda, obviamente, deduzir impostos. Que se traduzem numas largas centenas.
Por outro lado...
Por outro lado, há os alemães desempregados. Recebem cerca de 70% do valor do seu último salário durante um ano, que se segue de prestações de cerca de 50% - sem limitação temporal. Ou seja, um desempregado pode passar uma vida inteira a receber cerca de 50% do seu último salário e nunca mais trabalhar. Isto porque o mesmo pode recusar as propostas de trabalho que surjam do centro de emprego.
E além disto...
Além disto, há que traçar ainda a fronteira entre a Alemanha mais rica, ocidental, e a Alemanha mais pobre, de leste, onde grassa o desemprego. Para quem não saiba ainda existem diferenças nas tabelas do Estado quanto a remunerações a auferir no leste e no lado ocidental. Em relação a tudo, de salários a pensões de reforma.

Independentemente da justiça social que exista, ou não, por detrás de um sistema como este, o que está em causa é a sua incomportabilidade. O sistema encontra-se à beira do fim.
A proposta feita pela coligação SPD-Verdes não visa retirar por completo esses apoios, mas dar-lhes um carácter provisório, limitado no tempo.
O que é mais difícil é a agilização dos centros de emprego, porque se pretende tornar obrigatória a aceitação de praticamente qualquer proposta de trabalho que surja. Polémico?
Junte-se a este quadro uma deficiente explicação das medidas à população e um hiper-complexo processo burocrático pelo meio e obter-se-á a confusão que, às segundas-feiras, se organiza pelo país fora.


Dr. Jay's