Uma outra fábula de Lafontaine
Ontem foi segunda-feira. Aqui, isso significa que houve manif outra vez. Só que ontem foi diferente: o senhor Oskar Lafontaine, militante SPD, ex-colega de Schroeder, afastado do partido por ser demasiado "à esquerda", resolveu participar na manif em Leipzig, apesar de, como diziam os jornais, "ninguém o ter convidado"...
Desse já famoso e futuro desporto olímpico alemão que é o lançamento de ovos, o dito Lafontaine não foi poupado. E enquanto se esforçava furiosamente por ser ouvido pela multidão, abafavam a sua voz gritos virulentos, apupos e insultos. De facto, ninguém o tinha convidado...
A questão que se põe, mais uma vez, é a do aproveitamento político destas manifestações de segunda-feira contra o pacote de medidas "Hartz IV". Se por um lado o PDS (antigo Partido Comunista, depois do lifting-reunificação) procura furiosamente tirar dividendos do descontentamento das populações do leste, socialmente mais frágeis e que, portanto, serão mais afectadas pelas medidas propostas, Lafontaine procurou nesta ocasião relançar-se como político de uma "verdadeira esquerda", mimando Schroeder com epítetos do tipo "mentiroso", "traidor", etc e tal. Ainda sem dedo espetado à Louçã, mas a caminho. Só que, como se viu, ninguém parece levar Lafontaine a sério.
O Estado Social está à beira do colapso. A reunificação alemã obrigou-o a um esforço suplementar. Esforço esse que permanece, porque a realidade do antigo Leste não se pode aproximar do nível da ocidental em apenas uma década. Mas a própria sustentabilidade do sistema está em causa. Daí, até o Süddeutsche, jornal normalmente crítico em relação a Schroeder, afirmar que este pacote de medidas é absolutamente necessário. A forma será discutível, mas a substância é inevitável.
Lafontaine procurará uma "lição" hoje. Mas acima de tudo, o que transparece é que "do descontentamento alheio não procurarás retirar dividendos políticos".
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