segunda-feira, janeiro 17, 2005

Se do mundo eu só conhecesse uma cidade

E essa cidade fosse Hamburgo, eu diria estar ao pé do mar, quando o mar ainda fica longe, eu diria estar muito a norte, quando para norte ainda há muitas outras cidades, eu diria estar numa cidade industrial, quando na verdade Hamburgo é uma cidade mais comercial do que industrial.
Di-lo-ia porque os rios que em Hamburgo se cruzam e que aí desenham um enorme porto têm a dimensão do mar. Na verdade, até se chegar ao mar do norte ainda há caminho pela frente, mesmo que já cheire a maresia, que o peixe seja abundante e que as gaivotas se façam ouvir por toda a parte. Di-lo-ia porque a arquitectura oscila entre arrojados efidícios, onde abunda o vidro e o aço, sempre com formas alusivas ao mar, e uma arquitectura de séc. XIX, que ora constrói núcleos de habitação burgueses, ora desenha bairros operários. Di-lo-ia ainda porque a cidade, extremamente cara, tem uma densidade comercial impressionante, as lojas sucedem-se ao ritmo vertiginoso de um passo, reflectem-se com um canal de permeio, exibindo luxos e descontos com a naturalidade de uma carteira Luis Vuitton a viajar de bicicleta.
Mas do mundo conheço mais cidades. E no meio delas, Hamburgo é como uma Amsterdão que tivesse feito um compromisso com Roterdão e com Londres. Estranho? Dotada de uma "red light district", de nome Reeperbahn, das novas construções no porto, bem como de idílicos canais, Hamburgo estende-se ao longo do Elba, com os seus "Altonaer Terrassen", o jardim Heine e as casas de tipo inglês, que me transportaram para Londres por breves instantes.
Desconcertante é a vista. Numa cidade que ao contrário de Berlim não é plana, a imensidão do porto descerra uma paisagem inesperada: ilhas e ilhas de contentores, gruas e navios.
Se do mundo eu só conhecesse uma cidade e ela fosse Hamburgo eu nunca saberia o que é o mar.




Dr. Jay's