Paisagem com torre ao fundo
O que me dói não é de ontem, nem de hoje, não está no meio,
O que me dói agora é este sol diluviano
Que não dá tempo para lançar a arca da janela
Aterrar no guindaste aqui sito
E juntar as plantas em pares, para salvar a humanidade -
Rego-as, para as salvar com humidade
O que me dói é este sol nos olhos, por entre as pestanas
Como mãos que avançassem a abrir as pálpebras
Numa manhã de exército
Tudo aos gritos
Cedo demais, mesmo para orar
(Só conheço o allah minuta)
O que me dói é este e não outro sol, que se mexe e insiste
Quando o sol lhe dá pra isso
Não há quem lhe resista à luz,
Além disso não conheço nomes de flores
E nunca fiz uma barca
A arca jaz lá em baixo, no depósito do lixo
O que tivesse, tinha tido
Porque os tempos verbais não mentem,
Apesar do infinitivo não levar assim tanto tempo
Fico no sofá a admirar
Como este sol me persegue em movimentos de gata
Se me deito, adormece
Se me levanto, mata
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